Vento Forte da Bahia
Por: - 10/8/2011
Salvador - No ano Internacional dos Afrodescendentes declarado pela ONU, mais uma cantora negra e um novo estilo aparecem no cenário musical da Bahia: é Rebecca Tárique, 24 anos, que promete conquistar o país com seu estilo afro pop tribal. Leia mais.
Rebecca, que já é um nome conhecido no circuito alternativo e do movimento negro, lança no mês que vem o "Show Vento Forte", numa temporada de um ano, que prevê apresentações em Salvador e Lauro de Freitas.
Depois da temporada, que marca o lançamento de sua carreira profissional, ela disse que entrará em estúdio para gravação do primeiro CD e DVD. Em seguida, a idéia é alçar vôos mais altos pelo país afora, com apresentações, especialmente, em S. Paulo e Rio de Janeiro.
Afro pop tribal engajado
Com uma música marcada pela religiosidade e pela militância, Rebecca define-se como engajada. “A música tema que vamos trabalhar é Vento Forte. Sou uma pessoa religiosa, iniciada no Candomblé, a minha música se referencia na minha ancestralidade”, afirma.
A pegada militante também tem a ver com o fato de Rebecca ser ativista do movimento negro e por ter sido nos espaços do movimento, onde se deram suas primeiras apresentações. “Ser um Vento Forte é a nossa perspectiva e não é nada despropositada. Tem a ver com a luta que venho travando nos meus espaços de vida”, acrescenta confiante.
A quase totalidade das músicas do Show e dos futuros CD e DVD são composições do Ilê Ayê, do Olodum, da Banda Reflexus e do Grupo Tincoãs.
A banda que a acompanhará nos shows é formada por seis músicos: Celinho, Beto e Júnior,na percussão, Abílio, na bateria, Buba, no violão, e Binho no baixo.
“Sou mais uma cantora negra na Bahia e minha música é um resgate, uma afirmação de uma identidade. É um momento propício e eu escolhi lançar o show por ser ser um ano dedicado pela ONU. Como Ano Internacional dos Afrodescendentes. A minha música tem um viés político muito forte, coisa que vem se perdendo na música popular baiana e brasileira”, finaliza.
Fonte: Afropress: http://www.afropress.com/diversidadesLer.asp?id=254
Vento Forte da Bahia
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
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sábado, 27 de fevereiro de 2010
Rebeca Tárique*
Em meios de terremotos, estrondos e escombros numa vida sem rumo e sem direção eis que surge ela, como um verdadeiro vendaval, energia intensa e avassaladora, Yabá que domina os ares, ventos, raios e trovões Oyá.
Nascida e criada sob ensinamentos e cultura de uma família materna que por um bem comum e padrões estabelecidos socialmente-cristãos negava-me religiosamente á minha ancestralidade nagô. Voltada aos paradigmas e estereótipos que restringiam ás Religiões de Matriz Africana á uma concepção demonizadora do ser, e em que tudo que estava ligado ao conceito de mal era designada ou proveniente desta religião que nem mesmo na concepção social de Religião era denominada sendo vulgarmente caracterizada como uma seita.
Com o passar dos anos pude perceber neste mundo Afro-baiano que o que a minha avó Maria José da Silva Angoleira por nação filha do Orixá Nikice Obaluaê-Omolu cultuava era as forças, elementos que dominam a natureza e rege as nossas vidas.
O Encontro com o Axé fora surpreendente, lembro-me que todas as vezes que era exigida por minha mãe a visita na casa da minha avó paterna era como uma tortura e sob alegação de que eu não suportava estar lá, pois não agüentava ouvir uns gritos quando aquelas coisas pegavam minha avó deformavam sua face e me fazia arrepiar, isso não poderia ser coisa boa... Além disso, escondia de quem quer que fosse que minha avó era sacerdotisa do Candomblé, pois o preconceito e a discriminação eram muito grandes.
Hoje percebo de forma pura e singela que aqueles gritos decorrentes da incorporação do orixá nada mais eram que o Ilá... Ilá que mostra sua existência e por que não dizer resistência, resistência de um sagrado que luta para que seus filhos os Omo-Orisás possam alcançar o espaço que lhes são de direito neste Ayé (Terra), pois no Orum (“céu”) já lhes são garantido.
Ao completar meus 17 anos resolvi então me permitir a conhecer pelo menos a nível cultural o que era aquela religião que cada vez mais minha família paterna esta assumindo de forma tão séria e compromissada. Então resolvi na noite de 25 de junho de 2004, festa de caboclo boiadeiro me fazer presente, o orgulho por minha aceitação pelo menos de estar fisicamente naquela festa era tão grande por parte de minha avó que ela me perguntara minha neta posso lhe vestir uma saia e eu não exitei e aceitei. A mameto aproveitou o ensejo de tais liberdades me colocou um fio de contas do Inkice Gomgobira e disse: “É uma conta, por proteção”, e então fomos para o barracão (templo Sagrado). Ao entoar os tambores dos atabaques o coro literalmente já tinha comido e comeu para mim naquela noite pois quando começou a cantar uma música para o Orixá Oyá Inkice Bamburucema- Matamba ela se mostrou sem ter dúvidas que qualquer outra energia pudesse dominar aquele Eledá, meu Ori(cabeça) já era dela desde o dia 09 de fevereiro de 1987 dia em que nasci. Após passar o momento de transição acordei de um profundo sono sem entender nada e com várias pessoas a minha volta dizendo: “Rebeca Oxalá te chama.” Eu sair imediatamente desesperada chorando e questionando a minha ausência neste espaço e o porquê dessa transição, a resposta me foi dada: “Rebeca querida não se assuste você é a escolhida, você é uma pessoa que emprestará seu corpo para uma energia que dominará o seu ser e será dona da sua vida”, explicação que me deixou atônita. Logo eu que não queria nenhum tipo de aproximação, agora não teria mais domínio sobre minha vida por que ela seria de Orixá. Naquela instância eu realmente não tinha dimensão de tamanha honra que era ser a escolhida por Oyá que veio determinante afirmando nome, ancestralidade, ascendência e nação e mais ela não era da mesma nação que á minha avó e sim da família dos Alaketus. Daí cada vez mais fui vivenciando um cotidiano de candomblecista e hoje tenho a certeza que o candomblé rompe com a concepção religiosa que limita o ser humano, é mais que religião, é uma verdadeira forma de vida, de comer, de vestir, de falar. Tudo é modificado em sua vida, pois somos mais que instrumentos dos Orixás, somos á própria morada viva deles.
Hoje com meus 23 anos de idade e com 5 meses de Santo fui iniciada para a Orixá Oyá pela Yalorixá Jaciara Ribeiro Zeladora do Terreiro Axé Abassá de Ogum no Terreiro da minha avó o Ilé Asé Zambi Funan.
Oyá modificou totalmente a minha vida revelando-me com sua ventania a realidade obscura a que eu estava condicionada antes da minha iniciação.
“ Iru Eniyan Wo Ni Oyá Yí N Se, Se?” (“Que tipo de mulher é Oyá?”)
“Obinirin Ogun, Ti Na Ibon Re Ní A Ki Kún” (“A mulher guerreira que carrega sua arma de fogo”).
* Rebeca Tárique é Yaô de Oyá, militante do Movimento negro, historiadora e cantora.
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